Costumamos chamar alguns vegetais de ervas-daninhas ou plantas invasoras. Muitas são comestíveis (as queridas PANCS), mas outras não. Todas, contudo, são vegetais extremamente importantes para a reparação de solos e, sobretudo, indicam qual a qualidade de um solo em determinado momento. Em vez de querer nos livrar delas, vamos aprender o que elas têm a ensinar.
Trevo (Oxalis Oregana)
Mais do que errado, o termo ervas daninhas é preconceituoso e baseado numa visão utilitarista. Repare, o termo daninhas já indica que elas são prejudiciais, perniciosas, que causam dano. Mas, elas causam mesmo? Na natureza não existe nada que cause dano. Felizmente só conseguimos falar de bem e mal, um discurso que envolve a moral, para questões humanas, e as plantas são vegetais. Nem bons, nem maus. Nunca daninhos, danosos. Só a partir desse raciocínio, o termo “erva daninha” já começa a parecer errado.
O termo ruderais é sinônimo de ervas-daninhas, mas sem esse juízo de valores em cima delas. Ruderal significa “planta que acompanha o homem”. Ou seja, onde o homem vai e desmata, queima, corta, lá vem as plantas ruderais para ocupar o solo. As plantas espontâneas, que nascem sozinhas.
Essas plantas têm a habilidade de deixar o ambiente sempre mais fértil, mais solto, mais úmido e mais rico em vida. Sempre. São aquelas que nascem onde nada mais nasce, e vão preparando terreno até que as plantas mais sensíveis possam nascer, seguidas de plantas maiores, até a reposição da vegetação. Dessa forma, raramente você verá as plantas ruderais, “daninhas”, numa floresta com solo rico e fértil. Ali, elas não tem mais trabalho a fazer. Aliás, há sementes que ficam décadas no solo esperando o solo ficar compactado, seco, pobre e raso para brotarem. É o plano de saúde do solo. A esse “plano de saúde” natural damos o nome de banco de semente do solo. Se a terra fica doente, essas sementinhas entram em ação. E não, não estou inventando nada disso. Ana Primavesi já escreveu sobre isso.
Aí está a mágica! Certas plantas têm essa função na natureza, a de equilibrar, reestabelecer. Por exemplo, se o solo está muito compacto, a tendência é que nasçam plantas de raízes longas e profundas. Elas naturalmente descompactam o solo e o deixam fofinho, permitindo a entrada de água. Espécies não comestíveis como a vassourinha de botão e a guanxuma são terríveis de arrancar porque a raiz vai fundo na terra. Quando a planta morre, essas raízes viram túneis onde a água e a fertilidade penetram. E a terra vai afofando, afofando.
Fontes para mais informações: Guilherme Ranieri (autor do texto editado) / Blog Matos de Comer [link]
Blog Teia Orgânica [link]